Por: Eduardo Silva
O Brasil, no dia 8 deste mês, tomou conhecimento de mais uma novidade oriunda de Brasília. O Senado aprovou uma lei que institui a cota unificada de 50% das vagas oferecidas em universidades federais de todo o país. O texto, que aguarda a sanção presidencial, reserva 25% dessas cotas para negros, pardos e indígenas, enquanto a outra parte será destinada às pessoas que possuem renda de até um salário mínimo e meio. Os beneficiados deverão, obrigatoriamente, ter feito todo o ensino médio em escola pública.
Com base no bravo e heroico discurso, constantemente proferido pelos defensores de sistemas de cotas, fica ainda mais curiosa a discussão em torno da precariedade de nosso ensino básico. Não obstante o total desprezo pela meritocracia individual dos candidatos às vagas, esbarramos também em uma falsa impressão, na qual os títulos de compensação social e promoção de direitos iguais escondem uma preocupante acentuação do preconceito.
É visível que os resultados, em curto prazo, aparecem muitíssimo favoráveis àqueles que são beneficiados com a lei. O jovem inteligente, articulador de boas ideias, batalhador, que realmente é prejudicado pela barreira social existente, terá a oportunidade de assistir aulas e desenvolver ainda mais o seu intelecto. Porém, os acachapantes 25% propostos e aprovados têm peso suficiente para permitir a entrada de outros jovens e adultos que, seguramente, estarão despreparados para o ritmo acadêmico. Muitas vezes sem a base que deveria ser oferecida nos anos básicos de escolaridade, esses estudantes sentirão a impactante vergonha de não acompanhar o conteúdo passado em sala de aula e, assim, quem pode garantir que a evasão nessas universidades federais não tenha um aumento vertiginoso?
Em qualquer condição enquadrada na lei, também é evidente que a mesma, em longo prazo, irá gerar um desconforto social sem precedentes. Os alunos não beneficiados irão convergir na disputa ainda mais acirrada e estressante pelos 50% de vagas restantes, enquanto no outro lado os aprovados são selecionados de uma forma excepcionalmente preconceituosa, já que o critério usado é justamente o que o nosso Estado caracteriza como crime: distinguir o outro pela cor ou classe social.
Não seria incabível afirmarmos então que, a condição obrigatória de conclusão do ensino médio em escolas públicas faz das mesmas uma obrigação vexatória e burocrática, da qual os jovens, em um futuro não tão distante, poderão ser recompensados com um verdadeiro salto olímpico sobre o mérito e a autoestima, pousando suavemente sobre a cadeira de uma sala de aula universitária. Toda a ruptura social que, ao longo dos anos, vem sendo bravamente combatida pela arte e pelas extensas transformações culturais, ganhará grandes chances de ser lamentavelmente reestabelecida na sociedade brasileira. Que possamos abreviar essas mazelas com as nossas sinceras palavras.
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