Por Eliene Santana, Gustavo Lima, Rafael Biazão e Tayane Garcia.
Sidnei Oliveira é formado em Marketing e Administração de Empresas, autor de vários livros sobre liderança e administração. Escreve nos portais Exame.com, Catho Online, Click Carreira, Café Brasil e InformationWeek Brasil. É atualmente sócio-fundador da Kantu Educação Executiva, vice-presidente do Instituto Atlantis de preservação ambiental e membro do conselho de administração da Creditem Cartões de Crédito e do Fórum de Líderes Empresariais. É consultor, autor, palestrante e expert em conflitos de gerações. Ele deixou seu próprio negócio e hoje orienta gestores de empresas para receber os jovens no mundo corporativo.
"Se os jovens têm a vontade, tem que tentar e acreditar em si próprio" Foto: Arquivo pessoal |
Agência Hipertexto: Como era o cenário quando você começou a trabalhar?
Oliveira: Comecei há 35 anos. Era uma época bem diferente, a gente começava a trabalhar muito mais cedo. Comecei aos 14 anos, estava entrando no ensino médio na época. Quando entrei na faculdade, já estava há um bocado de tempo no mundo corporativo. Em 1995, comecei a direcionar minha frente de trabalho para a internet e em 1997 eu tinha uma formação madura no mundo corporativo. Resolvi me aventurar como empresário na internet, que foi quando saí do banco. Criei um site de busca em 1995, época em que a internet estava surgindo no Brasil; e em 1997 ele já era um dos maiores sites brasileiros. Decidi investir toda minha carreira neste site.
Agência Hipertexto: E o que aconteceu com esse site?
Oliveira: No começo de 1999, um fundo americano fez uma oferta interessante. Vendi e assinei um contrato de não competição, ou seja, durante 10 anos eu não trabalharia com outra empresa de internet. Decidi me desligar da empresa e resolvi trabalhar como consultor no mundo corporativo, formando líderes e fazendo programas de treinamento em liderança.
Agência Hipertexto: Por que depois de vender o site você decidiu se especializar nessa questão de conflitos de gerações no mundo corporativo?
Oliveira: Tive uma juventude precoce em relação ao mundo corporativo. Fui submetido a experiências que, na verdade, acabaram me ajudando. Percebi que isso poderia ser um problema para as empresas que não estão preparadas para os jovens, que sofrem estímulos diferentes de outras épocas. As empresas precisam se adaptar ao comportamento deles, mas eles também precisam se adaptar a realidade deste mercado. Eu funciono como uma ponte. Nos próximos anos, quem assumirá a liderança da sociedade é a Geração Y, que são os jovens de hoje, e eles precisam estar preparados.
Agência Hipertexto: A juventude de cada época tem características diferentes. Antes da Geração Y, veio a Geração X, e antes da X, a Baby Boomer. Qual a principal característica de cada uma?
Oliveira: É difícil dizer isso porque, quando nós falamos “a juventude”, a gente generaliza, e quando nós generalizamos, caímos no estereótipo, e isso é ruim. O mercado de trabalho costuma dizer que os jovens da Geração Y são ansiosos, impacientes, irreverentes, rebeldes, querem fazer tudo ao mesmo tempo, não sabem o que querem e não têm responsabilidade. Essas, porém, não são características da Geração Y. São características da juventude em si. Todas as outras gerações de jovens tinham essas características, não é exclusividade da Geração Y. Essa mudança de paradigmas faz parte do DNA da juventude.
Agência Hipertexto: Como era o período de juventude da Geração Baby Boomer?
Oliveira: Era exigida uma seriedade. Quando eles chegaram à juventude, começaram a contestar tudo: a postura do mundo e a postura da própria juventude, querendo seus direitos como jovens. A mulher deixou de ser apenas a dona de casa e começou a exercer outras tarefas, e para ela exercer outras tarefas, alguém precisava cuidar das crianças.
Agência Hipertexto: E o cenário da Geração X?
Oliveira: A Geração X, que recebeu esse nome por causa do Malcon X (defensor dos direitos dos afroamericanos), já tinha outro cenário na infância. Eles nasceram na década de 60 e 70 e viram os pais se divorciar, viram um monte de líderes sendo mortos, passaram pela época da ditadura militar. O jovem que viu isso, passa a se ocupar com outras atividades. A criança também passou a ser influenciada pelo consumismo, por ficar mais tempo em casa, na ausência da mãe, assistindo televisão. Nesta época, por exemplo, havia o comercial da bicicleta Caloi, e toda criança queria ganhar uma, mas nem todas as famílias podiam comprar. O meu pai comprou uma Caloi, em 24 vezes, e deu para os quatro filhos. Nós tínhamos que dividir a bicicleta e muitas outras coisas. As casas normalmente tinham um banheiro, uma televisão e, quando tinham telefone, era apenas um. Essa geração valoriza muito as facilidades que foram adquirindo ao longo do tempo. Estes jovens começaram a trabalhar cedo para poder comprar as coisas e desfrutar as facilidades que iam surgindo, como videocassete e televisão, e anos depois o computador etc. Eles também casaram cedo para poder ter a sua casa e não precisar mais ter que ficar dividindo tudo.
Agência Hipertexto: Hoje, nós temos diferentes gerações no mercado de trabalho. Por que as gerações mais antigas ainda continuam trabalhando?
Oliveira: Primeiro, porque eles bancam os filhos até que estes possam entrar na faculdade e, em alguns casos, até que eles se formem. Outro fator é que a expectativa de vida também aumentou e continuará aumentando.
Agência Hipertexto: Quais são as maiores qualidades do jovem da Geração Y?
Oliveira: É a geração mais preparada, teoricamente, de todos os tempos. Essa geração foi mais exposta à informação, a qualificação e foi mais estimulada a adquirir habilidades.
Agência Hipertexto: E o ponto fraco?
Oliveira: O calcanhar de Aquiles dessa geração é que ela não foi exposta a certas dificuldades. Mas isso tem mais de um culpado: o próprio jovem, que amoleceu e se acomodou às facilidades, e o veterano, que tem medo de parar de trabalhar e ter que expor o jovem. O adulto fica dizendo que o jovem é irresponsável e não dá espaço para ele, mas alguns jovens também se acomodam e aceitam essa situação de ser sustentado. Você o coloca em uma situação difícil no emprego e ele pula fora, vai procurar outro emprego, e isso deixa a geração com um perfil de mimados. É necessário aguentar bronca às vezes. O mercado de trabalho nunca foi fácil. Mas é claro que tem muitos jovens que procuram oportunidades. Não há como generalizar.
Agência Hipertexto: O mercado não leva o jovem a sério?
Oliveira: O mercado reconhece o jovem que é sério e às vezes eu vejo o jovem não se levando a sério. Se você não se levar, o mercado não vai levar. Às vezes o jovem tem uma ideia, mas desiste por achar que não vai dar certo. Se ele tem a vontade, tem que tentar e acreditar em si próprio. É isso que vai levá-lo a ter sucesso.
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