12 de nov. de 2013

Filhos da revolução?

Por: Juliana Costa

Cartazes, gritos sincronizados e passeatas. “O gigante acordou” gritavam muitos. Parecia um novo país. População unida em prol do bem comum. Era coisa de outro mundo… Finalmente os brasileiros despertaram. E para construir uma nova nação, o que custa apelar?

E lá vamos nós: depredações de orelhões, agências bancárias, carros escolhidos a esmo, pichações, lixeiras incediadas e pedradas nos fardados. Sim, eles nos oprimem. O governo nos oprime. Eles abusam de nós, nos roubam e nada fazem. Somos livres e estamos lutando pelos direitos da população. Lutamos na “guerra popular”. Como não queremos ser reconhecidos, afinal não queremos fama, escondemos nossos rostos. Somos heróis e como tal não nos mostraremos. Onde já se viu? O Batman mesmo não mostra sua face.

E mais confrontos. Queremos transporte público gratuito mas antes vamos incendiar alguns ônibus. Afinal, o povo não ficará chateado se, no dia seguinte, tiverem dois ou três ônibus a menos na linha. Vamos quebrar caixas eletrônicos e terminais de ônibus. Isso não atrapalhará em nada. A população nos entenderá. Sabem que isso é para o bem de todos.

Andamos de preto, pois somos apenas um. Somos um todo. E também porque preto é uma cor legal. Combina com tudo. Inclusive com o coquetel molotov que tenho escondido dentro da mochila. Sabe como é, se os “coxinhas” nos atrapalharem em nossa revolução, eles verão. O povo não pode se assustar se por acaso quisermos quebrar o pára-brisa do ônibus em que estão. Calma, é pelo seu direito que luto. Não se aflija se de repente começarmos um confronto no metrô às 18h ou às 19h. É culpa dos “polícia” que não nos deixam trabalhar em paz.

E no final da luta, depois de destruirmos símbolos capitalistas, vamos a umas dessas lanchonetes de logo nas cores vermelho e amarelo. Nada demais. É só um lanche. Vamos tirar fotos de nossas câmeras e celulares dos mais avançados. Claro, precisamos registrar nossas conquistas. Vamos chegar em casa, depois de nossos pais terem ido nos buscar, tirar nossos tênis costurados por crianças chinesas, afinal, se as crianças chinesas tem que trabalhar, eu não posso fazer nada. Deitemos com a sensação de dever cumprido. Somos revolucionários. Somos guerrilheiros. Somos aqueles que colocam medo nas autoridades.

E no dia seguinte, lá vamos nós de novo. A luta não pode parar. Convocações nas redes sociais. Manifestação pacífica? Não, isso não resolve. Assim nunca te ouvirão. Vem comigo, eu sei como se faz um protesto. Sou aquele cara de preto que ontem, deu o sangue por você. Dona Maria, eu sei que foi difícil chegar em casa mas é por você que estamos aí. Seu João, não esquenta. Foi um acidente sua banca de jornal ter amanhecido pichada ou arrombada. Juro que deve ser culpa dos policiais. Nós estamos aqui pela população.

A população talvez não se chatearia com toda essa batalha se os “heróis” mostrassem seus rostos. Ora, o Super Homem o mostra. Batman está por fora. Pra quê se esconder? Vocês não lutam pelos nossos direitos? Com a face à vista, podemos agradecer pela destruição e seus rastros deixados, todos os transtornos causados e toda essa bondade por trás dos atos de vandalismo. TIREM A MÁSCARA!

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