1 de fev. de 2011

Entrevista

19/08/2011

Entrevista: Maria e Henry Jaepelt, fanzineiros

Por Carolina Campos, Roberta Galvão e José Roberto Pessoto

Nos anos 80 Maria Jaepelt e Henry Jaepelt se envolveram com fanzine. Desde que seguraram pela primeira vez o lápis, se envolveram com arte.


Sobre os planos futuros? Querem continuar desenhando! Confira alguns dos desenhos favoritos da dupla e conheça mais sobre fanzine na entrevista cedida ao Hipertexto:

Desenho de Maria Jaepelt
Hipertexto: Como e quando se envolveram com fanzine, e principalmente, com arte?

Jaepelts: Nos envolvemos com fanzine quase na mesma época (anos 80), e com arte, assim que aprendemos a segurar um lápis e um papel! Quando eu (Maria) era criança, gostava muito de brincar de escola, mas só queria ser professora de desenho!

Eu (Henry) comecei a conhecer esse universo mais ou menos em 85 ou 86. Comecei a publicar em fazines mais ou menos em 1987, em diversos estados brasileiros, e também no exterior (Alemanha, Argentina, Espanha, Portugal, Finlândia, EUA, Croácia, entre outros países). O grande lance era que tudo isso circulava via correio, por envelopes e mais envelopes, demorando uma eternidade para chegar. Hoje, você manda coisas para qualquer lugar via e-mail.

Hipertexto: Qual é o papel do fanzine para quem faz? E para quem lê?

Jaepelts: Começa na dificuldade da aceitação do produto nacional nas editoras. Existe um preconceito muito grande com desenhistas nacionais (com exceção do Mauricio de Sousa e do Ziraldo, que por sinal somos fãs de ambos). O fanzine vem da vontade de querer divulgar nossa arte, do jeito que achamos melhor, sem editor pegando no pé, e sem censura! Quem lê, geralmente também faz fanzine. Há também o público colecionador, que ama o underground. Há o lado da amizade também. Temos amigos que fizemos naquela época, que duram até hoje! E os que perdemos de vista, estamos encontrando através das redes sociais.

Desenho de Henry Jaepelt
Hipertexto: O que de mais importante vocês já divulgaram através de um fanzine?
Desenho de Henry Jaepelt

Jaepelts: Nossa arte em geral. Ilustrações, quadrinhos, textos, tirinhas, uma infinidade de coisas.

Hipertexto: Que materiais são mais recorrentes em seus desenhos?

Jaepelts: Folhas A4, lápis 6-b, canetas nankim de diversas espessuras de traço (da 0,5 até a 1,2) e pincéis para grandes áreas escuras.

Hipertexto:O fanzine ganhou força ou perdeu na sociedade contemporânea?

Jaepelts: O fanzine impresso perdeu força, embora tenha mais charme do que qualquer outra mídia. Ainda há muita coisa sendo lançada, mas, sem o mesmo destaque que havia nos anos 80 e 90.

Hipertexto: Têm planos futuros com a arte? Quais são os planos? 

Jaepelts: Continuar desenhando e publicando onde, quando e como for possível...

Hipertexto: O que as pessoas não devem deixar de saber sobre arte e fanzine?

Desenho de Henry Jaepelt
Jaepelts: Que os fanzines são expressões da arte livre de preconceitos, rótulos e normas comerciais. São a expressão de um pensamento livre!


Hipertexto: Recado para quem quer ser fanzineiro e artista?

Jaepelts: Faça fanzine! Informe-se, procure, garimpe. E encha folhas e mais folhas com suas ideias!


Hipertexto: Quais desenhos são seus preferidos? Os próprios e o do outro.

Jaepelts:Existem trocentos e tantos! Não daria para enumerar e citar todos.






15/07/11

Entrevista: Xico Sá, jornalista

Por Carolina Campos, José Pessoto, Roberta Chamorro e Sérgio Massao

Xico Sá escreve na Folha de S.Paulo, Correio da Bahia, Diário de Pernambuco e em revistas como a TPM e Trip. Faz participações no programa Rock Gol (MTV), Cartão Verde (TV Cultura) e atualmente faz parte do programa Saia Justa (GNT). Xico também é escritor de poemas e livros, como “Divina comédia da fama”, “Paixão roxa”, “Carta para você” e “Chabadabadá”. Sem papas na língua, o cearense falou sobre política, cidadania, futebol e a cultura do “pão e circo”. “O circo é a necessidade humana de ter um pouco de entretenimento, e isso não impediria de ter conscientização”.   

"As pessoas só correm atrás quando  bate no bolso"
(Arquivo pessoal)

Hipertexto: O que você achou do fato de o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, dar ponto facultativo aos funcionários públicos para irem à greve em favor dos interesses do próprio em 2010?


Sá: Foi uma das piores coisas que já se viu, fato quase inédito! Há muitos casos de governos incentivando algumas greves de setores, para melhor poder negociar. Já vi governos incentivando greve de metroviários para ter uma justificativa e arrumar “parcerias”. Já vi todo tipo de greve, mas greve com ponto facultativo foi a primeira, totalmente inédita. Mais do que populista, é sem precedentes. Isso está acontecendo também pelo desmantelo dos sindicatos que vivem um momento de descontrole, estão muito fragmentados e há várias lideranças. Não é só uma irresponsabilidade do governo, mas também do momento, um momento em que os sindicatos estão muito fragilizados. Eu acho que os sindicatos foram muito para dentro dos governos. Vivemos o desmantelo dos sindicatos, tanto de funcionários públicos, como de operários, um momento de fragilidade total. Os sindicatos ficaram muito poderosos dentro do governo e não fora. O Cabral é o exemplo mais radical disso tudo, fragilizado pela parte dos funcionários e muito coniventes com os governos, tanto estaduais quanto regionais.


Hipertexto: E você acha que o futebol é mais um esporte ou um produto comercial?

Sá: Hoje é um esporte explorado até as últimas consequências pelo comércio, mas ele é mais esporte quando é mais da várzea, mais amador. Se você chega à Champions League ou mesmo ao Campeonato Brasileiro, você tem um produto de verdade para ser vendido, tem jogadores para serem vendidos, eles são rateados, uma perna de um mercado, outra do empresário, são vários grupos que são donos dos jogadores. Então você tem muito comércio. Antes, você tinha o picareta do futebol, que era o cartola que vivia daquilo, hoje não. Hoje tem uma rede que faz linguiças que achou bom comprar, por exemplo, o Neymar. Achou um melhor investimento do que só fazer linguiça, então o futebol virou uma commodity, uma moeda mesmo de venda pesada, e, já que tem isso, acho que teria que ter um baita futebol e não joguinho, porque com todo esse dinheiro de investidores, e detalhe, um ingresso nunca foi tão caro no Brasil. O ingresso mais barato é R$60, meia R$30. Para eles terem esse ganho todo e mais os patrocínios de manga das camisas, calção, venda de passe, teria e deveria ser um show permanente. Mas, se você pegar a média do salário do jogador brasileiro, mal dá um salário mínimo ou 600 e poucos reais. É que focamos nessas histórias da elite, mas a maioria dos jogadores passam a metade do ano sem jogar, sem receber e têm que ter um segundo emprego. Então esse circo é mais para a primeira divisão, porque a maioria ganha uma miséria. Esse estágio de profissionalização é restrito apenas aos da elite.

Hipertexto: Você que tem contato com o Sócrates, que foi um dos idealizadores da Democracia Corintiana e contribuiu para as Diretas Já. Você acha que tem que aparecer alguém para mudar a cara da política futebolística? E você acha que deve aparecer alguém do próprio futebol ou pessoas de várias áreas que possam contribuir?

Sá: O ideal seria alguém de dentro, no caso o Sócrates, Casagrande e outros. O interessante disso é que muita gente teve a consciência de democracia por conta de ouvir Democracia Corintiana. O massagista, o roupeiro e ele mesmo, o Sócrates, o craque, tinham o mesmo direito ao voto nas decisões do clube. Se fossem mudar de camisa, era colocado em votação de todos, é um grande exemplo pedagógico. Uma geração inteira aprendeu democracia através do Corinthians, ao invés de em um livro didático na escola. Deveria ser alguém de dentro do futebol, sim, mas essa é a categoria mais submissa que existe no país, são cordeiros, existem alguns sindicatos, mas não têm força, porque os jogadores são muitos submissos. Se o clube proíbe que eles falem, eles não falam. Aqui os caras atrasam oito meses de salário e os caras se sujeitam, por medo de cair em clubes pequenos e não trabalharem o ano inteiro. O ideal era alguém de dentro mudar isso, mas eu acho que há possibilidade zero de ocorrer mudanças.

Hipertexto: Esse fanatismo por futebol nasceu naturalmente, falando em Brasil?

Sá: Para mim não existe fanatismo no Brasil, na Europa é muito mais. Os Ingleses são absurdos, são um milhão a zero mais fanáticos que nós, eles bebem mais, são mais fanáticos e no histórico de mais violência eles são os que mais aprontaram também. As maiores tragédias foram na Inglaterra. As nossas torcidas organizadas perto dos Hooligans são trombadinhas, aprendizes, mas lá tem leis muito rígidas e os caras que fazem coisa errada são banidos dos estádios, então, a diferença talvez seja essa. Aqui não conseguimos ter uma solução com um público inteiramente mais cordial do que o inglês. Lá, continuam bebendo nos estádios e aqui foi proibido. Eles conseguiram reduzir muito o nível de violência, aqui não se bane ninguém. A diferença está na impunidade. Mesmo na Roma Antiga tinha gente que torcia pelo leão, ou pelo cara que tinha que se salvar. Alguns povos estão tão ferrados que em alguns momentos precisam disso, como dependem da religião em momentos que estão fragilizados. Essa sociologia não é fácil de ser solucionada, é totalmente furada achar que é o ópio do povo. Há momentos em que o governo utiliza-se mais disso, como na ditadura, que era muito mais usado como controle: o Zagallo era chamado no Palácio, se reuniam e eram impostas as convocações. Hoje vivemos em um governo zoneado, mas é a mesma coisa desde 1958: em todos os governos, se a seleção ganha, sobe no Palácio. O ritual é o mesmo, mas tem os casos mais absurdos, como o do Maluf, que deu um fusca para cada jogador com o nosso dinheiro nos anos 70, um dos casos mais estúpidos.

Hipertexto: Se um noticiário publicar uma notícia de fraude e em seguida uma vitória da seleção, você acha que a primeira é digerida com maior facilidade?

Sá: Se você divulgar uma notícia de fraude em época de Copa, a chance de ela vingar é zero. Mas, acontece isso no Carnaval também, para a grande massa isso vai passar batido. Mas não dá para levar em conta apenas a classe. Tem torcedores da classe A que não são esclarecidos, pensam no clube e em nada mais. Dizendo melhor, não é a grande massa analfabeta, mas sim a grande massa não esclarecida, que acaba não ligando muito para algo, e sim para outra coisa menos importante. Nesses megaeventos é impossível competir.

Hipertexto: E como você acha que um resultado influi em um torcedor? Tirando base em você mesmo, muda algo?

Sá: Muda tudo. inclusive teve uma pesquisa americana que dizia que mudava sexualmente, o índice de testosterona aumenta. Fizeram exames com torcedores de várias seleções durante a Copa de 94, provaram que os caras se sentiam mais viris quando seu time ganhava. Para o homem é o fim do domingo: se o time perde no clássico, não tem pizza. Em São Paulo, onde o Corinthians é o time da grande massa, a cidade funciona melhor quando o Corinthians ganha: o cafezinho vem mais quente, a cerveja vem mais gelada e tem uma influência geral. Uma pesquisa dos anos 80 dizia que as faltas no trabalho estavam ligadas à derrota do time. Se você for perceber, muda tudo: o humor, o comportamento, no namoro, na produção, é algo violentíssimo. Você já viu algum torcedor de vôlei assim?

Hipertexto: A população tem plena consciência dos problemas sociais do mundo e do Brasil. De onde vem essa ideia de incapacidade de alterar as coisas por aqui?

Sá: Têm consciência. Se reagem ou não, é outra coisa. Realmente, esse é um dado muito forte por aqui. Aí eu não creio que o futebol que anestesie isso. Se eu fosse arriscar, eu diria que é educação, falta de conhecimento, do rico ou do pobre. E, pior, a mesma pessoa que não reclama dessas coisas importantes vai lá reclamar da geladeira que comprou que tem um defeito, vai lá e cobra. O Brasil teve uma baita educação de consumidor e não teve de cidadão. As pessoas só correm atrás quando bate no bolso e não percebem que são elas que bancam essa parte pública de educação, saúde e transporte também.

Hipertexto: O futebol é pão e circo da contemporaneidade?

Sá: É, mas não só o futebol. Acho que há um conjunto de coisas que acabam sempre exercendo essa função. Essa parte do circo sempre vai ter, pode ser o “britpop inglês”, pode ser o futebol do Brasil ou pode ser o axé music. Acho que pão e circo são universais. Alguém do império romano inventou isso e seguimos utilizando estes métodos, pão e circo para compensar. Acho que os governos se utilizam e vão se utilizar disso. Acho que não é só futebol, é o país: tanto a música boa como a música ruim, tanto o axé quanto qualquer outra música dita de qualidade. O circo é a necessidade humana de ter um pouco de entretenimento, e isso não impediria de ter conscientização.  O povo que foi para o Woodstock nos anos 70 estava brigando por alguma coisa, mas quer circo maior que o Woodstock? O problema é que não tem a conscientização. É por falta de educação e não por ter circo em excesso.

Hipertexto: E o que é melhor: um gol maravilhoso nos últimos segundos finais de um jogo ou um político corrupto ser preso?

Sá: Depende de quantos dias ele vai ficar na cadeia. Se for para sair no dia seguinte, eu prefiro o gol!

Hipertexto: O mundo vai mudar?

Sá: Olha, não vou falar em ter uma revolução, mas as mudanças vão ser em nichos, todas serão assim daqui para frente, em qualquer lugar do mundo. Eu acho que tem revoluções, tem trabalhos sociais, tem coisas para fazer. Será a revolução em nichos e as coisas vão sendo alteradas.



21/06/2011
Entrevista Kelen Tabone, Cineasta

Por Carolina Campos, José Roberto Pessoto e Roberta Chamorro

O cinema iraniano tem prosperado e muitos diretores têm recebido reconhecimento mundial por seu trabalho - ganharam mais de três centenas de prêmios nos últimos 25 anos. Em 2004, a cineasta brasileira Kelen Tabone visitou o Irã, com a finalidade de conhecer de perto o país, sua cultura e principalmente o cinema daquele país. 

A cineasta Kelen Tabone e o diretor Abbas Kiarostami
(Arquivo pessoal)

Agência Hipertexto: O que a motivou a conhecer mais de perto o cinema iraniano

Tabone: Eu nunca consigo formular uma resposta objetiva, pois sempre foi uma paixão na minha vida. Eu mais sinto do que racionalizo. Encontrei na cinematografia iraniana pressupostos que não conseguia encontrar em outro cinema. No ano de 2000, Bahman Ghobadi e Jafar Panahi vieram para o Brasil apresentar seus trabalhos na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Durante a exibição de “Tempo de embebedar cavalos”, eu pensei: ‘Tenho que conhecer esse país. Será que o que ele mostra corresponde com a realidade dessas pessoas?’ Após a exibição, houve um debate com os diretores e, por sorte, meu amigo Paivand Ahmad estava traduzindo. Quando acabou, eu e minha amiga Natali Zarth fomos falar com ele e dissemos que queríamos muito conhecer seu país. Ele nos convidou então para conhecermos. Mantivemos contato desde então, e em 2004 tive a oportunidade de ir.

Agência Hipertexto: O que você fez lá?

Tabone: Fui convidada pelo então embaixador do Brasil no Irã, Cesário Melantônio, para colaborar com a relação entre a cultura dos dois países. Tive a oportunidade de trabalhar com o Bahmanh Ghobadi na edição do making of de seu filme “Tartarugas podem voar”.

Agência Hipertexto: Aqui no Brasil você mantém relação com o cinema iraniano?

Tabone: Sim, realizo pesquisa sobre os não-atores no cinema iraniano e conto com o apoio da Fapesp para realizar esse trabalho.

Agência Hipertexto: O que são os não-atores? 

Tabone: É um tipo de cinema realizado após a Revolução Islâmica de 1979. Usa pessoas comuns que representam, muitas vezes, seu próprio papel. Os temas desses filmes são muito próximos do cotidiano dessas pessoas, tornando-os muito parecidos com documentários. Isso acontece porque, antes da revolução islâmica, os filmes que eram exibidos não se enquadravam na moral islâmica e, após o governo do Irã se tornar um país onde a religião e o Estado compreendem uma só esfera da sociedade, os temas e os atores tiveram que se enquadrar nessa moral. Isso não quer dizer que eles não trabalhem com atores profissionais, mas esses filmes são comerciais e são exibidos apenas nacionalmente. 

Agência Hipertexto: Qual tipo de cinema faz mais sucesso no Irã? 

Tabone: As pessoas preferem os filmes mais comerciais, que visam o entretenimento, em detrimento ao filme de arte, que muitas vezes joga com o espectador e o tira de sua passividade. Lá no Irã, o único divertimento da população é o cinema, o teatro, os piqueniques e as casas de chá. Por isso o cinema é considerado uma forma de divertimento de massa. Então essa cinematografia se torna muito dividida entre cinema de arte e cinema comercial. Porém, o cinema de arte tem um alcance internacional maior, por causa dos festivais internacionais.

Agência Hipertexto: Há influência do cinema hollywoodiano no Irã?

Tabone: Antes da revolução, os filmes eram todos baseados ou até mesmo copiavam os filmes americanos. Após a revolução, esse tipo de filme foi banido das telas, dando lugar ao cinema que corresponde à moral islâmica. Mas os filmes hollywoodianos continuam inspirando os diretores comerciais.

Agência Hipertexto: O Irã deixa entrar filmes estrangeiros no país? 

Tabone: Uma forma de censura que contribuiu para que os filmes estrangeiros e mesmo aqueles produzidos na época do Xá pudessem ser exibidos em uma sociedade islâmica foi o uso da ‘marca mágica’, um método de censura em que eles pintavam sobre pernas descobertas e outras partes expostas do corpo. Quando este método não funcionava, eles cortavam os trechos dos filmes que feriam a moral e os valores islâmicos. Estes cortes existem até hoje. Muitos são os filmes estrangeiros exibidos tanto no cinema quanto na TV iraniana e tais filmes passam por um rígido controle antes de chegar ao público. Algumas cenas que são cortadas são as de beijo, homem e mulher se tocando, deitados na mesma cama, entre outros.

Agência Hipertexto: Você falou sobre a censura nos filmes estrangeiros. Como funciona essa censura para os filmes iranianos?

Tabone: Até os dias de hoje o projeto de um filme, para ser produzido e exibido, passa por diversos estágios de censura. No primeiro estágio, a sinopse é avaliada. Depois, o roteiro deve ser aprovado por um conselho, devendo estar de acordo com os preceitos morais islâmicos. No terceiro estágio, a lista dos técnicos e dos atores deve ser aprovada. O filme já pronto é mandado ao Conselho de Censura do Governo, o qual aprova, exige mudanças para a liberação ou proíbe totalmente. Se aprovado, os produtores recebem permissão de exibição, com a avaliação de A, B, C ou D, que determina o acesso à mídia, como a definição se pode ou não ser comercializado para a TV e em qual cinema poderá ser exibido. Vale ressaltar que os equipamentos para filmagens são propriedade do governo, então, se o cineasta não consegue autorização para filmar, ele não consegue filmar nem escondido, a não ser com os equipamentos digitais, pois as câmeras de cinema não são emprestadas para aqueles que não têm autorização.

Agência Hipertexto: Os atores e diretores do cinema iraniano atuam somente no Irã? O governo concede essa autorização para trabalharem em outros países?

Tabone: Os atos de censura não se limitam somente à produção cinematográfica, mas interferem na vida de atores e diretores que passaram a ter que pedir autorização para deixar o país, com o intuito de participar de festivais internacionais ou até mesmo de produções estrangeiras. Um claro exemplo foi o incidente ocorrido com a jovem atriz Golshifiteh Farahani, consagrada no Irã e que participou do filme “Rede de Mentiras” (“Body of Lies”, 2008), de Ridley Scott. As autoridades iranianas ficaram insatisfeitas por ela ter participado do filme e se enfureceram ainda mais quando a viram, através de vídeos na Internet, sem o hijab (vestuário islâmico) na première em Nova York. Quando Golshifiteh chegou ao Irã, teve seu passaporte confiscado, ficou impedida de deixar o país, até mesmo para participar de festivais internacionais, inclusive no Brasil. Até que foi obrigada a deixar casa, família, amigos e carreira, ao fugir do Irã e ir para a França, onde vive atualmente. O diretor Abbas Kiarostami acabou de produzir um filme de produção francesa e italiana, que se chama “Cópia Fiel” e é estrelado pela atriz Juliette Binoche. Ele é um diretor de muito sucesso internacional e é considerado um dos mestres do cinema iraniano, que realiza filmes que se enquadram nessa categoria do cinema de arte. Outro diretor que está fazendo filme fora do país, na Turquia, é Bahman Ghobadi, que foi exilado do país após realizar um filme sobre a música underground iraniana (proibida pelo governo). Nessa produção ele filma com a atriz Monica Bellucci.

Agência Hipertexto: Para finalizar, quais filmes iranianos você recomenda assistir?

Tabone: São poucos os filmes lançados no Brasil, mas em videolocadoras grandes é possível encontrar alguns deles e também a Mostra Internacional de Cinema é uma ótima oportunidade para assisti-los. Filmes como “Filhos do paraíso”, “O balão branco”, “A cor do paraíso”, “Dez” e “Tartarugas podem voar” são facilmente encontrados. Um filme que só foi lançado em VHS, mas merece ser visto, é “A maçã”, da Samira Makhmalbaf.
 

25/05/2011
Pedro Montaldi Gava, psicólogo e administrador do CAPS III Vila Formosa/Aricanduva

Por Carolina Campos e José Roberto Pessoto

A reforma psiquiátrica no Brasil implantou os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Trata-se de um serviço de atenção à saúde mental dos cidadãos que tem por objetivo oferecer atendimento clínico psiquiátrico por meio da organização de uma rede de atendimento psicológico no país. Pedro Montaldi Gava, psicólogo e administrador do CAPS III Vila Formosa/Aricanduva, conversou com a AGÊNCIA HIPERTEXTO sobre a forma com que os centros são articulados.

 "CAPS organiza o fluxo e o atendimento das pessoas com problemas de saúde mental de todos os territórios do país", diz Gava
(Imagem Morguefile)

Agência Hipertexto: O que é o CAPS ?

Gava: É a sigla de Centro de Atenção Psicossocial. Trata-se de um serviço voltado aos cuidados e atenção dos transtornos mentais graves e severos.

Agência Hipertexto: Qual é a função do CAPS?

Gava: O CAPS surgiu com a intenção de evitar a internação por longa permanência de pessoas com transtornos mentais. Antes, muitas pessoas viviam de 20 a 30 anos dentro de hospitais psiquiátricos. No Brasil ainda existem cerca de 12.000 “moradores” nesses hospitais, por desconhecimento da existência do CAPS e até por falta de investimento governamental. O CAPS oferece os cuidados na própria residência da pessoa, essa é uma tentativa de resgatar a dignidade e a cidadania de quem precisa de tratamento. Isso promove a autonomia das pessoas, que sempre foram vistas como inúteis, como pessoas que não serviam para nada e que só causavam problemas para a sociedade. Hoje a sociedade está vendo que existem outras formas de ofertar cuidados a essas pessoas que sofrem.

Agência Hipertexto: Quais são os tratamentos?

Gava: Nós trabalhamos com o que chamamos de projeto terapêutico singular. A pessoa passa por uma avaliação e, em equipe discutimos, vamos entendendo a pessoa na complexidade do indivíduo e não separadamente. O tratamento é pensado no todo do indivíduo e cada pessoa tem um tipo especifico de tratamento. É um conjunto de ideias e ações para a melhoria das pessoas atendidas. Não existe uma receita pré-determinada, para algumas pessoas umas ações servem e para outras não, portanto. Nesse contexto e no cotidiano vamos construindo uma relação de saúde.

Agência Hipertexto: Quem são os profissionais que trabalham no CAPS?

Gava: Em nossa equipe há psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, assistentes sociais, auxiliares de enfermagem e oficineiros.

Agência Hipertexto: Por quem é mantido o CAPS?

Gava: O Governo Federal repassa a verba para o município, que, por sua vez, administra e gera os recursos. Atualmente, a Prefeitura de São Paulo estabelece parcerias com organizações sociais de forma independente. Essas organizações contratam os profissionais e a Prefeitura financia.

Agência Hipertexto: Quantos CAPS tem a cidade de São Paulo?

Gava: Existem algumas modalidades de CAPS: o adulto, o infantil e o CAPS álcool e drogas. Na cidade de São Paulo temos cinco macrorregiões: a centro-oeste, a norte, a sul, a sudeste e a leste. Na centro-oeste, temos nove CAPS, sendo quatro para adultos, dois infantis e três para usuários de álcool e drogas. Na região sudeste, temos 17 CAPS, sendo cindo para adultos, cinco infantis e sete para problemas com álcool e drogas. Na região norte, temos 12 CAPS, sendo seis para adultos, três infantis e três para problemas com álcool e drogas. Na zona leste, temos 11 CAPS, sendo três para adultos, três infantis e cinco para recuperar alcoólatras e droga adictos. Na zona sul, temos 10 CAPS, sendo cinco para adultos, dois infantis e três para álcool e drogas.

Agência Hipertexto: Quantas pessoas o CAPS Vila Formosa/Aricanduva atende?

Gava: Nós fazemos parte da coordenadoria sudeste. A unidade acompanha mensalmente cerca de 350 pessoas.

Agência Hipertexto: Qual é a diferença entre o CAPS e os hospitais psiquiátricos?

Gava: Existe uma grande diferença. O hospital psiquiátrico baseia sua ação na segregação das pessoas, retira-as do convívio social e, a partir desse isolamento, propõe os cuidados. São pacientes adoentados que precisam de uma equipe técnica e acabam ficando submetidos ao conhecimento e regras de uma instituição. No CAPS, entendemos que existem pessoas com sofrimentos mentais necessitando de cuidados e que devem ser cuidadas em seus territórios. É no convívio do próprio ambiente cotidiano de cada pessoa que o CAPS cuida dos pacientes.

Agência Hipertexto: A rede básica de saúde se beneficia de alguma forma pelo serviço prestado pelo CAPS?

Gava: Sim. O CAPS organiza o fluxo e o atendimento das pessoas com problemas de saúde mental de todos os territórios do país. O CAPS se torna parceiro da rede básica de saúde na composição, no questionamento e no cuidado da psiquiatria brasileira.

Agência Hipertexto: De que forma é o atendimento no CAPS?

Gava: O CAPS funciona de portas abertas. A pessoa que chega é acolhida. Ela passa por uma avaliação e averiguamos se ela deve ser atendida no CAPS ou em postos de saúde. Por ser um serviço de especialidade no cuidado de transtornos mentais graves e severos, não conseguimos dar conta de todos que nos procuram, então também orientamos que alguns pacientes recebam auxílio em postos de saúde, com psicólogos ou clínicos.

Agência Hipertexto: Quando uma pessoa deve procurar o CAPS?

Gava: Quando a pessoa está com dificuldades de gerir a própria vida, quando ela não tem autonomia, tem depressão, perdeu a independência e perdeu funções de seu cotidiano devido a algo que desordena o psíquico.

Agência Hipertexto: É necessário encaminhamento médico para as pessoas serem atendidas no CAPS?

Gava: Não, a pessoas chegam, preenchem uma ficha e conversamos sobre os seus problemas. Pedimos às pessoas que venham acompanhadas para obtermos relatos e compor um histórico, mas não é exigência. Por ser um serviço regionalizado, obedecemos o critério territorial, ou seja, as pessoas não passam pela avaliação se não morarem na região de cobertura de cada CAPS, porém, as escutamos e as encaminhamos para outras unidades.

Agência Hipertexto: Qual é a faixa etária predominante das pessoas atendidas pelo CAPS?

Gava: No nosso caso específico, o CAPS Vila Formosa/Aricanduva atende adultos acima dos 18 anos. Na faixa intermediária entre a adolescência e juventude fazemos o trabalho em conjunto com o CAPS infantil.

Agência Hipertexto: Em média, quanto tempo uma pessoa fica em tratamento?

Gava: Varia de pessoa para pessoa, não tem previsão. Tem pessoas com os mesmos transtornos, mas que reagem de maneiras diferentes à medicação. Não existe uma fórmula de cuidado. Acompanhamos o paciente e, quando há melhoras, encaminhamos para continuar o tratamento em um posto de saúde. Nesse processo não há tempo estabelecido.

Agência Hipertexto: Qual é o índice de melhora das pessoas atendidas pelo CAPS?

Gava: Índice de estatística, numericamente, não temos, mas o transtorno mental, não mais doença mental, é transitório. São momentos de pioras e de melhoras, a pessoa em tratamento pode ficar bem estabilizada como pode apresentar outro processo de piora. É como na vida - ora estamos bem, ora estamos mal. Na decorrência de vivermos nas grandes cidades, submetidos à tamanha violência e problemas, podemos facilmente descompensar a estabilidade emocional de qualquer ser humano.


Caps Vila Formosa
Por José Pessoto


Mais informações: www.saude.gov.br
Coordenação Nacional de Saúde Mental
saudemental@saude.gov.br
HTTP://pvc.datasus.gov.br
Telefones: 61315-2684 / 315-2655 / 315-3319
Fax: 61 315-2313
DISQUE SAÚDE 0800 61 1997


06/04/11
Bruno Favoretto, editor da revista Recreio

Por Roberta Chamorro

Bruno Favoretto tem 29 anos e, apesar de ser cadeirante, leva uma vida normal como qualquer jovem da sua idade: trabalha, dirige, viaja, passeia com sua esposa. Em entrevista à Agência Hipertexto, ele fala sobre o descaso das autoridades e a falta de sensibilidade existente na população.

"Sim, sou independente", diz Favoretto
(Arquivo pessoal)

Agência Hipertexto: Você já nasceu com dificuldades de locomoção?

Favoretto: Não, eu era um menino cheio de saúde. Com 17 anos e 4 meses, estava andando na porta de um metrô, aí veio um policial, mandou todo mundo encostar na parede e, pasme, disparou "acidentalmente" a metralhadora. Já faz mais de 11 anos e até hoje não recebi nada do governo.

Agência Hipertexto: Já foi vitima de preconceitos por ser cadeirante?

Favoretto: Sim, motoristas de ônibus, entrevistas de emprego, supermercados, professores. Vagas de deficientes, então, nem comento.

Agência Hipertexto: Participa de alguma ONG?

Favoretto: Não, embora conheça bem o movimento superação

Agência Hipertexto: Você se considera uma pessoa independente?

Favoretto: Sim, sou independente. Fiz faculdade em Belo Horizonte (FUMEC - Fundação Mineira de Educação e Cultura), sempre morei sozinho e casei há um ano. Trabalho na Editora Abril há 5 anos

Agência Hipertexto: Pratica algum tipo de esporte?

Favoretto: Sempre pratiquei esportes. Após o acidente, eu me dediquei à bicicleta

Agência Hipertexto: O que você acha dos transportes públicos da cidade de São Paulo? Já teve problema com algum?

Favoretto: Os piores do mundo que pude presenciar. Pouquíssima adaptação. Aliás, nem transporte tem direito, quanto mais adaptação.

Agência Hipertexto: O que poderia ser feito para que o acesso dos cadeirantes fosse o ideal?

Favoretto: Piso asfaltado, rampas nas calçadas, transporte digno. É só mandar o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Kassab passear em Milão, Amsterdã, enfim, na Europa, e ver como se faz. Gastar eles sabem, mas não há retorno. As autoridades que fazem as leis têm total falta de sensibilidade em relação aos portadores de necessidades especiais, só aparecem nos horários eleitorais a cada dois anos fazendo promessas e não cumprem.

Agência Hipertexto: Após sofrer o acidente, seus amigos se afastaram de você?

Favoretto: A maioria, mas as que eu fiz depois considero bem melhores

Agência Hipertexto: Como é lidar com a deficiência?

Favoretto: Acho que faço parte de uma minoria. Todo dia tento passar uma imagem legal pra todos para que o deficiente seja mais respeitado.

Agência Hipertexto: Como é o comportamento das pessoas quando você sente necessidade de ser ajudado?

Favoretto: Algumas fazem pouco caso, outras são muito legais, outras não sabem como agir, não têm a menor noção de como tratar um deficiente.

Agência Hipertexto: eu mensagem você gostaria de deixar para a população?

Favoretto: Respeite as vagas e banheiros de deficiente: elas só existem porque a necessidade é extremamente grande.


02/03/11
Valéria Rambaldi, jornalista da Rádio Eldorado

Por Roberta Chamorro

A convite da Atalanta Publicidade e Propaganda, a jornalista Valéria Rambaldi concedeu uma entrevista coletiva aos alunos do 5º semestre de Jornalismo a respeito das características do jornalismo ambiental. O evento “Encontro com Profissionais” faz parte do conteúdo curricular da disciplina Jornalismo Segmentado, ministrada pelas professoras Flávia Serralvo e Regina Tavares. Valéria atualmente coordena três programas na Rádio Eldorado, voltados meio ambiente, cultura e variedades, além de atuar como assessora de imprensa nas áreas de moda, gastronomia, negócios, meio ambiente e terceiro setor.

"Um pouco que cada um fizer pelo meio ambiente, terá um efeito enorme no planeta", diz Rambaldi
(Arquivo pessoal)


Agência Hipertexto: De onde surgiu seu interesse pelo jornalismo ambiental?

Valéria: Eu sempre gostei do tema  e me interessei ainda mais pelo  jornalismo ambiental quando comecei  a trabalhar na Eldorado em 2004. A rádio sempre levantou a bandeira do jornalismo ambiental e conseguiu, em 1992, depois de uma  matéria comparando o Rio Tietê com o Tâmisa, começar uma mobilização com a população,  e conseguiu um milhão de assinaturas que foram enviadas ao Governo de São Paulo e deu início ao Projeto Tietê.

Agência Hipertexto: Você  participa ou já participou de alguma ONG? Acredita que as ONGs são fundamentais na recuperação do meio ambiente?

Valéria: Nunca participei de nenhuma ONG. Sempre gostei de animais e sempre fui contra poluição e sujeira. Algumas ONGs usam o assunto meio ambiente como forma de ganhar dinheiro, porém outras são muito responsáveis, fazem realmente trabalhos com animais, onças raposas, mas às vezes existem pessoas que são do mal infiltradas nessas ONGs do bem.

Agência Hipertexto: Qual sua função na Rádio Eldorado?

Valéria: Estou há sete  anos na rádio. Entrei como redatora, depois fui para a produção e reportagem – foi quando me chamaram para produzir matérias específicas para o meio ambiente e também de jornalismo diário.

Agência Hipertexto: Quais os cuidados que devemos ter com o ouvinte?

Valéria: Devemos ter cuidado com  o conteúdo  que vamos colocar no ar. As pessoas estão muitas vezes sujeitas a falarem absurdos e uma informação errada pode causar sérios problemas.

Agência Hipertexto: Você  tem alguma esperança de melhoras com relação a meio ambiente aqui no Brasil?

Valéria: Sei que ainda falta muita coisa para melhorar. O Brasil, por exemplo,  é um país que ainda usa amianto, e isso gera alguns problemas muito sérios a saúde. Já fizemos várias matérias sobre isso. As pessoas ainda jogam lixo em qualquer lugar.  Fiz um pequeno levantamento na avenida Paulista e descobri que são jogadas 1 milhão de bitucas por dia nas  calçadas. E quando entopem os bueiros, a culpa não é só da Prefeitura, né? As coisas não mudam de uma hora para outra. O programa de meio ambiente serve para isso: educar e conscientizar.

Agência Hipertexto: O lado negativo da sujeira e da poluição pode ajudar?

Valéria: Muitas vezes, o lado negativo da história nos leva à conscientização. Acredito que, depois de tanta chuva e tantos problemas que estamos enfrentando, a sociedade já começou a se preocupar.

Agência Hipertexto: Sobre desastres ambientais, qual efeito o jornalismo tem na solução desses casos?

Valéria: A informação se espalha e essa disseminação é o que faz as coisas acontecerem.

Agência Hipertexto: Você acredita que as empresas mudaram seu conceito no contexto meio ambiente?

Valéria: Sim, a maioria das empresas procura fazer ações ecologicamente corretas. Muitas já trocaram suas matérias-primas por matérias sustentáveis. Os empresários estão  preocupados e indo  pelo caminho certo da ecologia e da preservação do meio ambiente.

Agência Hipertexto: A Natura é uma empresa que usa elementos da natureza para produzir seus produtos. Você considera uma produção sustentável?

Valéria: A Natura apresenta um trabalho muito sério, replantam todos os produtos que retiram da natureza. Jamais escutei ou apurei alguma denúncia dessa empresa.

Agência Hipertexto: Qual é a relação entre jornalismo ambiental e governo?

Valéria: O Ministério do Meio Ambiente faz várias ações, algumas boas e algumas ruins. Digo ações ruins quando as considero ações de interesses políticos ou de grupos que estão mais preocupados com lucros do que com o meio ambiente.

Agência Hipertexto: Quando o governo deve começar a reagir?

Valéria: Eu acho que tem que ser uma ação conjunta entre governo e população. A população tem, sim, uma parcela de culpa, quando joga sujeira nos rios ou  não descarta o lixo de  maneira adequada.

Agência Hipertexto: Qual foi a situação que mais lhe chocou e a que mais lhe deu prazer em informar?

Valéria: Fiquei muito chocada quando descobrimos que dentro de uma ONG de proteção aos felinos, do Mato Grosso, estava infiltrada uma pessoa que passava informações para que caçadores de onças pudessem encontrá-las.  É muito satisfatório quando descobrimos casos absurdos como esses e conseguimos denunciar.

Agência Hipertexto: Qual a notícia sobre meio ambiente que mais repercutiu?

Valéria: Dar a noticia do caçador  de onça deu uma repercussão boa. Algumas emissoras de televisão acabaram dando enfoque a essa matéria também.

Agência Hipertexto: Quais as dificuldades que existem para manter um programa ambiental no rádio?

Valéria: Hoje em dia esse tipo de programa é bem-vindo. Temos alguns patrocinadores, como a Tetrapak,  que está há anos como  um dos nossos patrocinadores. E pauta de meio ambiente é o que não falta. Até o descarte correto de uma lâmpada de mercúrio pode virar pauta.

Agência Hipertexto: Vocês recebem denúncias de moradores? Essas notícias são baseadas em quê?

Valéria: Recebemos praticamente todos os dias, principalmente sobre poluição, maus tratos de animais. Recebíamos mais pelos e-mails da rádio,  agora, com as redes sociais, também recebemos muita coisa.

Agência Hipertexto: Qual o conselho que você deixa para a população?

Valéria: Aconselho a refletirem que destruição do meio ambiente não é só aquecimento global, engloba muitos aspectos. Hoje em dia sofremos muito com a matança de baleias, sacrifícios de animais em geral, a sujeira da cidade também causa muita preocupação. Peço para que todos continuem pensando globalmente e agindo localmente. O pouco que cada um fizer pelo meio ambiente terá um efeito enorme no planeta.


27/02/11
Rinaldo José Andrade (Mantega), presidente da Nenê de Vila Matilde

Por Carolina Ribeiro, José Roberto Pessoto e Roberta Chamorro

Com a intenção de fazer um de seus maiores carnavais, a Nenê de Vila Matilde irá abrir a segunda noite de desfiles no sambódromo, no sábado, 5 de março. Na ocasião, será feita uma homenagem para “Seu Nenê”, fundador da escola que morreu em 2010 aos 89 anos, vítima de complicações no pulmão. O enredo, “Salis sapientae: uma história do mundo”, narrará a evolução da humanidade a partir do sal. A Agência Hipertexto conversou com o presidente da escola, senhor Rinaldo José Andrade, mais conhecido como “Mantega”, que nos contou os detalhes e expectativas para Carnaval 2011.

"Carnaval é cultura, é a história de um povo de uma raça". diz Manteiga
(Por Ribeiro, Pessoto e Chamorro)


Agência Hipertexto: Por que o sal foi a escolha da escola?

Mantega: Porque era um enredo sobre o qual nós tínhamos conhecimento, que transmite uma história, um enredo rico e maravilhoso que vocês irão ter a oportunidade de conhecer na avenida.

Agência Hipertexto: De onde surgiu a ideia de falar sobre o sal?

Mantega: Surgiu do nosso Carnavalesco Delmo de Moraes, nossa diretoria estudou e aceitou.

Agência Hipertexto: Qual é a expectativa da escola em relação ao Carnaval 2011?

Mantega: Ganhar! (risos). Além de ganhar o Carnaval, que é uma disputa, mostrar que o Carnaval é cultura, é a história de um povo, de uma raça.

Agência Hipertexto: O senhor acha que o Carnaval tem um papel social na vida da população?

Mantega: Sem a menor sombra de dúvidas, é lógico que tem. Não só o Carnaval como as escolas de samba, gerando empregos, dando oportunidades para quem talvez não tenha uma qualificação. Agrega às pessoas a sociedade, ensina, de certa forma educa.

Agência Hipertexto: Quando Seu Nenê faz mais falta?

Mantega: O Seu Nenê, para a nossa cultura, para o nosso samba, faz falta em todos os momentos. Num ensaio como esse, no desfile, faz falta para o samba de São Paulo. A figura dele, a força, faz falta. Tenho certeza de que ele está presente entre nós.

Agência Hipertexto: Como foi a escolha da madrinha de bateria Ângela Bismarchi?

Mantega: A Ângela é nossa madrinha de bateria desde o ano passado. A escola passou por um momento difícil e ela esteve conosco, acreditando na escola. Não tivemos escolha: é ela.

Agência Hipertexto: Quando começa a preparação para o Carnaval e quando termina?

Mantega: Começa quando acaba esse (risos). E não termina nunca. O Carnaval não para, é constante evolução, constante trabalho. Carnaval é dinamismo puro. A gente está trabalhando neste Carnaval e já está trabalhando no outro.

Agência Hipertexto: Quando vocês têm férias?

Mantega: Aos domingos a gente está aqui ensaiando, fazendo aquilo que gostamos, curtindo, cantando, dançando, revendo as pessoas com quem gostamos de estar – essas são nossas férias. Não tem dia específico. Temos a oportunidade de trabalhar todos os dias e com prazer, não necessitamos de férias.

Agência Hipertexto: O que o público deve esperar da escola?

Mantega: A escola tem 62 anos, nossos desfiles são marcados com garra, força e muita determinação. O público pode esperar tudo isso aliado a um salto de qualidade que a escola está dando no Carnaval, com suas alegorias e fantasias. A Nenê é um pouquinho diferente de algumas escolas de samba – ela tem seu desfile diferenciado.

Agência Hipertexto: O que é necessário para desfilar e fazer parte da Nenê?

Mantega: Amar o samba, gostar do samba, gostar da Nenê de Vila Matilde. Gostou do samba, gostou da Nenê, a Nenê está de portas abertas para as pessoas que têm a mesma intenção que a nossa. As pessoas devem vir para a escola, passar bons momentos, cantar, dançar, fazer daqui um ambiente agradável, escolher uma fantasia e desfilar.

Agência Hipertexto: De onde vem a verba para manter a escola?

Mantega: Prefeitura e Rede Globo.

Agência Hipertexto: E o percentual de bilheteria?

Mantega: A parte da administração fica com a Liga das Escolas de Samba, da qual a Nenê faz parte.

Agência Hipertexto: Qual sua rotina de trabalho na Nenê?

Mantega: Integral, diuturnamente. Ontem – quer dizer, hoje (risos) – às 9h15 da manhã eu fui descansar, porque ontem nós estávamos retirando nossos carros alegóricos e levando para o sambódromo. Tem dia que você acorda mais cedo, acorda mais tarde, não para de falar de Carnaval, não para de falar de samba. A nossa rotina é o samba. É o amor pelo samba, pela cultura, pela alegria, que é o que o samba traz.


1 comentários:

Roberta disse...

Gostaria de agradecer todos os entrevistados que nos receberam muito bem ! Roberta Chamorro

Postar um comentário

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | cna certification