O aumento na frequência dessa prática gera um sentimento de revolta, preocupação e abandono
Por Adriana Nascimento e Juliana Veloso
No mês de março, um vídeo na internet mostrou um garoto australiano de 15 anos, Casey Heynes, revidando uma agressão na escola. As imagens rapidamente tornaram-se virais e o fato conquistou milhares de fãs em todo o mundo. Heynes deu entrevistas, foi homenageado com músicas, videoclipes, desenhos e, recentemente, Justin Bieber o colocou no palco. O garoto virou um símbolo mundial contra o bullying.
No mês seguinte, um ex-aluno de um colégio em Realengo, Rio de Janeiro, disparou contra dezenas de alunos, matando 12 e ferindo outros 12. Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, era conhecido pelos parentes e amigos como uma pessoa introvertida que somente se ocupava com o computador e, como já foi confirmado, também foi vitima de bullying na infância.
Os dois casos refletem o aumento significativo de violência entre alunos de escolas, gerando um sentimento de revolta, preocupação e abandono. O termo, criado pelo professor norueguês na década de 80, Dan Olweus, nunca foi tão utilizado como nas últimas décadas. Mas, até agora, ataques como o que aconteceu em Realengo não eram uma realidade brasileira, o que gerou um temor ainda maior dos pais em deixar seus filhos na escola.
Daniel Fiori, 21 anos, revela que aos 12 anos praticava o bullying com os colegas de escola. “Escolhia as pessoas pelo teor de ‘engraçadice’. Sempre tinha que ter algo diferente. Agia sozinho ou em turma, não fazia muita diferença. Nunca pensei que poderia traumatizar alguém, mas brinco até hoje”.
Naturalmente as brincadeiras fazem parte do desenvolvimento infantil e dos adolescentes. O que difere as brincadeiras do bullying são a perseguição e crueldade e, principalmente, a escolha das vítimas, que sempre trazem traços diferentes dos agressores. Os agredidos se tornam pessoas com baixa auto-estima, vulneráveis e doentes.
Thiago Silva, 29 anos, afirma que era uma vítima em potencial. “Eu me diferenciava dos demais alunos, tinha roupas diferentes, era mais pobre, usava óculos, era gordo, tímido e gago. Era um prato cheio para as zombarias, por isso, passei a me excluir de tudo”. Silva revela que revidou os ataques: “Um dia, tomei coragem para entrar no time da escola e agredi um garoto que me perturbava havia dois anos. Depois disso, virei o ‘nerd desajustado’. Eles continuaram tirando sarro, mas agora tinham medo de mim”.
Para o coordenador pedagógico George Hamilton, 34 anos, a melhor arma para conter situações conflituosas ainda é o dialogo aberto sobre ações negativas e suas consequências. “O bullyng não escolhe suas vítimas. Todos, sem exceção, são possíveis alvos. Trabalhar conceitos como ética e cidadania é um meio para conter e proteger crianças e adolescentes de situações de exposição”, informa.
Buscar o diálogo, como diz o pedagogo, união e interatividade com a família, são as orientações básicas dos especialistas para que se possa diminuir casos extremos dessa prática.
Assista o vídeo que chocou o mundo
Assista a entrevista de Casey Heynes na A Current Affair
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