25 de mai. de 2011

Entrevista: Pedro Montaldi Gava, psicólogo e administrador do CAPS III Vila Formosa/Aricanduva

Por Carolina Campos e José Roberto Pessoto

A reforma psiquiátrica no Brasil implantou os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Trata-se de um serviço de atenção à saúde mental dos cidadãos que tem por objetivo oferecer atendimento clínico psiquiátrico por meio da organização de uma rede de atendimento psicológico no país. Pedro Montaldi Gava, psicólogo e administrador do CAPS III Vila Formosa/Aricanduva, conversou com a AGÊNCIA HIPERTEXTO sobre a forma com que os centros são articulados.

 "CAPS organiza o fluxo e o atendimento das pessoas com problemas de saúde mental de todos os territórios do país", diz Gava
(Imagem Morguefile)

Agência Hipertexto: O que é o CAPS ?

Gava: É a sigla de Centro de Atenção Psicossocial. Trata-se de um serviço voltado aos cuidados e atenção dos transtornos mentais graves e severos.

Agência Hipertexto: Qual é a função do CAPS?

Gava: O CAPS surgiu com a intenção de evitar a internação por longa permanência de pessoas com transtornos mentais. Antes, muitas pessoas viviam de 20 a 30 anos dentro de hospitais psiquiátricos. No Brasil ainda existem cerca de 12.000 “moradores” nesses hospitais, por desconhecimento da existência do CAPS e até por falta de investimento governamental. O CAPS oferece os cuidados na própria residência da pessoa, essa é uma tentativa de resgatar a dignidade e a cidadania de quem precisa de tratamento. Isso promove a autonomia das pessoas, que sempre foram vistas como inúteis, como pessoas que não serviam para nada e que só causavam problemas para a sociedade. Hoje a sociedade está vendo que existem outras formas de ofertar cuidados a essas pessoas que sofrem.

Agência Hipertexto: Quais são os tratamentos?

Gava: Nós trabalhamos com o que chamamos de projeto terapêutico singular. A pessoa passa por uma avaliação e, em equipe discutimos, vamos entendendo a pessoa na complexidade do indivíduo e não separadamente. O tratamento é pensado no todo do indivíduo e cada pessoa tem um tipo especifico de tratamento. É um conjunto de ideias e ações para a melhoria das pessoas atendidas. Não existe uma receita pré-determinada, para algumas pessoas umas ações servem e para outras não, portanto. Nesse contexto e no cotidiano vamos construindo uma relação de saúde.

Agência Hipertexto: Quem são os profissionais que trabalham no CAPS?

Gava: Em nossa equipe há psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, assistentes sociais, auxiliares de enfermagem e oficineiros.

Agência Hipertexto: Por quem é mantido o CAPS?

Gava: O Governo Federal repassa a verba para o município, que, por sua vez, administra e gera os recursos. Atualmente, a Prefeitura de São Paulo estabelece parcerias com organizações sociais de forma independente. Essas organizações contratam os profissionais e a Prefeitura financia.

Agência Hipertexto: Quantos CAPS tem a cidade de São Paulo?

Gava: Existem algumas modalidades de CAPS: o adulto, o infantil e o CAPS álcool e drogas. Na cidade de São Paulo temos cinco macrorregiões: a centro-oeste, a norte, a sul, a sudeste e a leste. Na centro-oeste, temos nove CAPS, sendo quatro para adultos, dois infantis e três para usuários de álcool e drogas. Na região sudeste, temos 17 CAPS, sendo cindo para adultos, cinco infantis e sete para problemas com álcool e drogas. Na região norte, temos 12 CAPS, sendo seis para adultos, três infantis e três para problemas com álcool e drogas. Na zona leste, temos 11 CAPS, sendo três para adultos, três infantis e cinco para recuperar alcoólatras e droga adictos. Na zona sul, temos 10 CAPS, sendo cinco para adultos, dois infantis e três para álcool e drogas.

Agência Hipertexto: Quantas pessoas o CAPS Vila Formosa/Aricanduva atende?

Gava: Nós fazemos parte da coordenadoria sudeste. A unidade acompanha mensalmente cerca de 350 pessoas.

Agência Hipertexto: Qual é a diferença entre o CAPS e os hospitais psiquiátricos?

Gava: Existe uma grande diferença. O hospital psiquiátrico baseia sua ação na segregação das pessoas, retira-as do convívio social e, a partir desse isolamento, propõe os cuidados. São pacientes adoentados que precisam de uma equipe técnica e acabam ficando submetidos ao conhecimento e regras de uma instituição. No CAPS, entendemos que existem pessoas com sofrimentos mentais necessitando de cuidados e que devem ser cuidadas em seus territórios. É no convívio do próprio ambiente cotidiano de cada pessoa que o CAPS cuida dos pacientes.

Agência Hipertexto: A rede básica de saúde se beneficia de alguma forma pelo serviço prestado pelo CAPS?

Gava: Sim. O CAPS organiza o fluxo e o atendimento das pessoas com problemas de saúde mental de todos os territórios do país. O CAPS se torna parceiro da rede básica de saúde na composição, no questionamento e no cuidado da psiquiatria brasileira.

Agência Hipertexto: De que forma é o atendimento no CAPS?

Gava: O CAPS funciona de portas abertas. A pessoa que chega é acolhida. Ela passa por uma avaliação e averiguamos se ela deve ser atendida no CAPS ou em postos de saúde. Por ser um serviço de especialidade no cuidado de transtornos mentais graves e severos, não conseguimos dar conta de todos que nos procuram, então também orientamos que alguns pacientes recebam auxílio em postos de saúde, com psicólogos ou clínicos.

Agência Hipertexto: Quando uma pessoa deve procurar o CAPS?

Gava: Quando a pessoa está com dificuldades de gerir a própria vida, quando ela não tem autonomia, tem depressão, perdeu a independência e perdeu funções de seu cotidiano devido a algo que desordena o psíquico.

Agência Hipertexto: É necessário encaminhamento médico para as pessoas serem atendidas no CAPS?

Gava: Não, a pessoas chegam, preenchem uma ficha e conversamos sobre os seus problemas. Pedimos às pessoas que venham acompanhadas para obtermos relatos e compor um histórico, mas não é exigência. Por ser um serviço regionalizado, obedecemos o critério territorial, ou seja, as pessoas não passam pela avaliação se não morarem na região de cobertura de cada CAPS, porém, as escutamos e as encaminhamos para outras unidades.

Agência Hipertexto: Qual é a faixa etária predominante das pessoas atendidas pelo CAPS?

Gava: No nosso caso específico, o CAPS Vila Formosa/Aricanduva atende adultos acima dos 18 anos. Na faixa intermediária entre a adolescência e juventude fazemos o trabalho em conjunto com o CAPS infantil.

Agência Hipertexto: Em média, quanto tempo uma pessoa fica em tratamento?

Gava: Varia de pessoa para pessoa, não tem previsão. Tem pessoas com os mesmos transtornos, mas que reagem de maneiras diferentes à medicação. Não existe uma fórmula de cuidado. Acompanhamos o paciente e, quando há melhoras, encaminhamos para continuar o tratamento em um posto de saúde. Nesse processo não há tempo estabelecido.

Agência Hipertexto: Qual é o índice de melhora das pessoas atendidas pelo CAPS?

Gava: Índice de estatística, numericamente, não temos, mas o transtorno mental, não mais doença mental, é transitório. São momentos de pioras e de melhoras, a pessoa em tratamento pode ficar bem estabilizada como pode apresentar outro processo de piora. É como na vida - ora estamos bem, ora estamos mal. Na decorrência de vivermos nas grandes cidades, submetidos à tamanha violência e problemas, podemos facilmente descompensar a estabilidade emocional de qualquer ser humano.

Caps Vila Formosa
Por José Pessoto


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