Por Adriana Nascimento
Pós-graduada em Psicopedagogia e professora de ensino fundamental I das redes Municipal e Estadual de São Paulo, Juliana concedeu uma entrevista para a AGÊNCIA HIPERTEXTO sobre o estudo do aumento de carga horária nas escolas, conforme anúncio do ministro da educação Fernando Haddad.
"A melhoria na educação não pode estar pautada em medidas paliativas", diz Juliana Foto: Banco de dados |
Agência Hipertexto: O que você acha do plano do Ministério da Educação em aumentar a carga horária de 200 para 220 dias letivos e/ou de 4 para 5 horas diárias?
Eliete: Não podemos negar a eminente necessidade na mudança da estrutura educacional de nosso país. Muitos aspectos estão sendo levantados, um deles na questão do aumento de carga horária e dias no ano letivo. No entanto a ampliação destes não garante melhorias na qualidade deste ensino. Em tempos anteriores os alunos frequentavam 180 dias letivos. O aumento para 200 dias não interferiu efetivamente na qualidade de educação.
Eliete: Sim. Revisitando a história educacional, principalmente no Brasil nota-se uma grande crise de paradigmas e um enorme abismo entre a teoria e a prática. Fala-se muito sobre a educação na mídia, pesquisas e revistas, mas pouco se concretiza. Sem contar a falta de identidade que a instituição escolar apresenta nos dias de hoje. A escola não é apoiada pelas áreas social, psicológica e assistencial, atua no lugar delas, deixando o processo de ensino-aprendizagem em último plano.
Agência Hipertexto: Acredita que o mal desempenho de algumas escolas no Enem tem ligação com o tempo de aula que esses alunos recebem?
Eliete: Qualidade e quantidade são conceitos diferentes. Além da consciência da necessidade de melhor formação do professor, revisão de currículo e avaliações a qualidade está diretamente ligada ao contexto em que se insere o ensino. Neste contexto cabe saber qual perfil socioeconômico e cultural, qual o acesso deste educando a informações como bibliotecas, internet, cinema, teatro e viagens, além do apoio e estímulo da família.
Agência Hipertexto: O que o ministério da educação poderia fazer para a melhoria geral da educação brasileira?
Eliete: A melhoria na educação não pode estar pautada em medidas paliativas. O caminho para uma educação de qualidade é complexo e profundo. Porém, podemos iniciar com medidas simples como salas de aulas bem equipadas, iluminadas, pintadas e com números de carteiras suficientes para todos com espaço e conforto, com número reduzido de alunos para que o professor possa atender de forma mais individualizada com um deles. Estes ítens, aparentemente banais podem elevar a disposição para o trabalho e para o estudo. Ambientes que estimulam a aprendizagem como brinquedotecas, bibliotecas, laboratórios de informática são essenciais para a qualidade do processo educacional e permitem o acesso a cidadania, ética e dignidade humana.
Agência Hipertexto: Qual o impacto que os profissionais da área sofrerão com essa alteração?
Eliete: Falando diretamente com relação aos estudantes eles perderiam maior tempo com a sua família, o que é essencial na formação de valores. Já os profissionais na área de educação acumulam o cargo de professor para ter uma renda mais adequada e com esta ação muitos seriam prejudicados.
Agência Hipertexto: As escolas e os profissionais da área, estão preparados para essa situação?
Eliete: Os profissionais estão realizando formações contínuas e estão preparados sim para este tipo de situação, porém além do que foi citado acima é notório que as escolas não apresentam o espaço necessário para atender a demanda dos alunos em período integral. As escolas públicas funcionam em sua maioria em dois períodos com classes superlotadas. Não se pode esquecer que a profissão docente é estressante e o maior número de dias letivos aumentaria significamente o número de licenças dos professores.
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