Bolsa a preço de banana em feira da madrugada

Por: Allyne Pires

Olha a bolsa, olha a bolsa. Companheiro, companheiro, vai uma bolsa? Tenho vários modelos, uma com certeza combina com você. Tem a bolsa família, escola, reclusão, entre outras. Essa daqui acabou de sair da fábrica. Bolsa crack. E aí companheiro vai levar alguma?

Foi passando na feirinha da madrugada um dia desses que quase peguei uma dessas bolsas. A oferta era tentadora, algumas até me poupavam de acordar cedo para trabalhar, mas ter filho dá muito trabalho. Então, decidi passar para outro felizardo.

Essa é a realidade que o Brasil vive. Algumas “bolsas” oferecidas são muito eficazes, no papel e na vitrine. Entretanto, escolha e comece a usar e verá que a primeira caneta, caderno, lápis que colocar ela rasgará. A bolsa escola é um dos exemplos dessa precariedade. Para quem não sabe, ela transfere recursos para a manutenção das crianças nas escolas, dessa forma, a criança não precisa trabalhar para ajudar os pais. Mas, preste atenção, o filho da rapariga para ter o benefício precisa ter frequência em 85% das aulas e possuir renda inferior a 90 reais. Digamos que a maioria que adere a esta bolsa more em condições precárias e longe da escola, sendo necessário, na melhor das hipóteses, atravessar um rio em uma canoa. O guri realmente vai entender com quantos paus se faz uma. O cara lá das torres do planalto central oferece uma excelente bolsa de couro de crocodilo, mas não oferece os meios para que o cara que ganhou a mantenha em ótimas condições.

Digamos que a criança consiga frequentar a escola e consiga terminar o Ensino Médio. O cara lá do centro pensou nisso e elaborou a bolsa de continuidade para seus estudos na faculdade. Excelente! Porém, o estudo que foi oferecido foi o suficiente para se fazer uma prova de dois dias de duração, com 180 questões e uma redação? É, definitivamente não. Não tive a bolsa escola e estudei em um bom colégio estadual se comparado com muitos outros espalhados pelo Brasil, mesmo assim tive que cursar dois anos de cursinho para conseguir o Prouni em uma faculdade boa. Imagina aqueles que precisaram fazer uma jornada todos os dias para ir à escola. E ainda somos obrigados a escutar que “só não estuda quem não quer”!

É mole? Não, é duro. Bem duro. Igual a pedra que o rapaz aqui do lado está “brincando”. Estou vendo que daqui um tempo ele vai estar melhor do que eu. Se ele frequentar a clínica e se comportar, claro. Se o cara for se tratar tem bolsa que vem com um “cartão recomeço” no valor de R$ 1350,00 por mês. Além disso, o cara tem direito a implantação de “portas de saída”, que significa que receberá residências terapêuticas, programas de distribuição de renda, programas de profissionalização, acesso à educação e moradia. Enquanto a maioria do trabalhador brasileiro se mata trabalhando para sobreviver e ainda guardar um dinheirinho para sua casa própria.

Se o indivíduo não quer se internar fica pelas ruas, roubando e até matando para conseguir comprar sua droga. Mas, calma, ainda ele pode recorrer ao auxílio-reclusão. O cara ganha um valor de até R$ 971,78. Mais do que eu e muito homem comum que rala dia e noite. “É pra família do cara, ela não tem culpa”. Ok! Concordo. Muitas famílias são tão vítimas quanto eu e você. Então, forneça um emprego para quem está cuidando da casa e disponibilidade de estudo. Ganha-se dinheiro como todo ser humano, ralando.

A bolsa que me deixa mais indignada é a para família. Tecido ruim, e vende! Ela é dada para as famílias que ganham menos de R$ 70,00 por pessoa que mora na casa. Fala sério! Geralmente nessas famílias só uma trabalha para sustentar dez. Algo não está errado? Antes de dar dinheiro para esse povo dê uma estudada no caso. Primeiro forneça meios para que esse ser pare de ter filhos, não tinham nem condições de sustentar um, quem dirá dez. Segundo, para a mãe não trabalhar isso significa que as crianças estão ficando em casa, onde entra então a bolsa escola? E o período integral? Terceiro, com as crianças na escola o dia todo além de a mãe poder trabalhar para ajudar no sustento da casa, tem uma grande chance de elas não ficarem nas ruas, o que mais tarde poderia acarretar no uso da bolsa crack e auxílio-reclusão. Entretanto, quem disse que o governo quer pessoas em escolas? Para quê? A maioria ficaria esperta o suficiente e saberiam como agir diante de todas as falcatruas do governo. Sai mais barato sair distribuindo grana por aí do que ver o país crescer.

Não digo que os outros cidadãos não mereçam ter uma vida digna, muito pelo contrário. Mas o que mata é ver que caminho essas bolsas estão levando. Enquanto algumas são bem pensadas e elaboradas, outras só fazem com que o povo trabalhe menos e tenha mais filhos. Viva na rua, enquanto outros mais trouxas ainda ralam para sobreviver e dar vida aos outros.

E aí vai uma bolsa?

Não, obrigada. Definitivamente essas bolsas não servem para mim.

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