Por: Ana Mendonça
Há pouco mais de um mês, eu me manifestei em sala de aula a favor da redução da maioridade penal. Mostrei toda minha indignação por o governo não fazer uma "simples emenda" na Constituição Federal, reduzindo de 18 para 16 anos a tal idade que permite que a pessoa pague pelo que fez como um adulto responsável e ciente. Eu ficava indignada com aquelas pessoas que insinuavam que queríamos colocar crianças inocentes na cadeia. Inocentes o escambau! Eu mesma fui assaltada por três adolescentes e eles não eram inocentes coisíssima nenhuma!
Semanas depois...
Me encontrei com uma pessoa mais vivida e experiente do que eu, que fez-me refletir sobre o que era essa redução e qual era realmente o problema da sociedade.
Agora imagino que você irá me perguntar:
"As pessoas ficaram mais cruéis, sanguinolentas e inconsequentes?"
Sim.
"Isso tem acontecido com pessoas cada vez mais jovens?"
Sim.
"Então por quê não reduzem a maioridade penal e colocam esse bando atrás das grades???"
Simples: a redução da maioridade penal não resolveria o problema.
"Mas bandido bom não é bandido preso ou morto? Se prendermos e amedrontarmos esses assassinos e meliantes estaremos seguros!"
Pensar assim foi o meu erro e tem sido o erro da maioria dos brasileiros.
Não é oprimindo uma pessoa que você fará com que ela mude, muito pelo contrário, as coisas só tendem a piorar. Se começarmos a prender garotos(as) de 16 anos, eles continuarão fazendo a mesma coisa e logo prenderemos os de 15, 14, 13... Delito realmente não tem idade.
"Então, qual é a saída?"
A resolução desse problema depende de muitas pessoas... Principalmente dos governantes, mas depende também de mim e de você.
"Mas é a lei da vida não é? O mundo é dos espertos!"
Engraçado que as mesmas pessoas que dizem isso, são as que recriminam os menores. Eles não fazem isso simplesmente porque querem.
"Ah, vai começar a defender bandido agora???"
Não. Mas infelizmente essas pessoas não tiveram as oportunidades que eu tive, nem que você, que me lê, teve. Elas não tiveram pais comprometidos e de bem como os nossos, que nos mostraram qual era o caminho certo a seguir. Não tiveram quem mostrasse que devemos batalhar para conseguir o que queremos. Não tiveram acesso à uma educação adequada, à cultura, à recreação. Muitos passaram fome e viveram em meio a tiros, tráfico, morte. Essa foi a escola em que eles cresceram, foi isso que eles aprenderam.
"Então, você diz que todas as pessoas que moram em locais cercados por violência são assim?"
Não. Existem muitas pessoas honestíssimas, íntegras e pacíficas que moram em comunidades carentes. A diferença é que essas pessoas tiveram quem as guiasse e não se deixaram levar pelo caminho "fácil". Para você pode ser banal, mas um sorriso, uma palavra, um gesto seu, pode mudar a vida de muita gente.
Ninguém sabe o que se passa no íntimo de cada ser humano. Você só sabe o que se passa dentro de você! É aí que está o erro... Estamos tão acostumados em correr atrás das NOSSAS coisas, dos NOSSOS sonhos, dos NOSSOS objetivos, que esquecemos que as pessoas que nos cercam também tem coração e, às vezes, só precisam de uma palavra. Somos tão voltados aos NOSSOS problemas que esquecemos que todos tem problemas. Só queremos nos sentir seguros, protegidos, felizes, amados. Agora, alguém já parou pra pensar o que essas pessoas realmente querem? Será que não buscamos um mesmo objetivo, só que de uma maneira diferente? Será que não recebemos um sorriso a mais, um carinho a mais ou uma oportunidade a mais?
Ninguém é 100% mau ou 100% bom. Ninguém é perfeito. Ninguém pode julgar uma pessoa sem saber o que ela viveu para reagir de tal maneira.
Eu como uma reles mortal também não estou julgando ninguém. Só quero que quem perdeu seu preciosíssimo tempo para ler estas linhas, pense bem antes de abrir a boca para dizer: Eu sou a favor da redução da maioridade penal. Não cometam o mesmo erro que eu.
Por fim, deixo uma pergunta: Simplesmente impor limites já resolveu algum problema?
0 comentários:
Postar um comentário