20 de set. de 2012

CRÔNICA: Carnaval de primavera


Por Maris Landim 

Como não era de costume sai de casa atrasada, corri até o ponto de ônibus e peguei o primeiro que surgiu pela avenida. Murmúrios e buchichos agitavam o caminho até a estação, ouvia nas entrelinhas e observava os olhares cruzados. Pela janela, placas, cartazes e fotos abarrotavam a avenida. Alguns semblantes não eram estranhos, figurinhas repetidas, outras novas para o álbum.

A cada parada um rosto estampado no terreno abandonado, em cada esquina um cartaz com a melhor foto que pudera tirar a cada quarteirão um carro de som cruzava a avenida. Tantas fotos, quantos papéis, quantas pessoas. De onde vieram? O que fazem?

As crianças colecionavam os papéis, juntavam pilhas e pilhas e depois brincavam como entregadores de panfletos, os adultos mal olhavam, jogavam o que recebiam no chão e continuavam sua caminhada se queixando do atraso. Já os adolescentes revolucionários, reclamavam da sujeira e com fones de ouvido fingiam estar aleatórios à correria. E o gari sempre ali, varrendo, juntando e recolhendo tudo. Enchia sacos e sacos de lixo para depois os distribuir pela avenida.

Durante o trajeto me atentei à programação da televisão que ficava no ônibus, um trecho da novela, os destaques do jornal, o horóscopo diário, até que interroperam a programação e uma tela azul com os seguintes dizeres: “Horário reservado para a propaganda eleitoral gratuita”. Bastou o anúncio aparecer para dispersar o interesse dos passageiros do ônibus.

Pois é, começaram as eleições municipais de 2012. Os roteiros todos já sabem, as músicas e as frases feitas muitos já decoraram, viraram “hits” do momento. E você, já sabe em quem votar? No país, conhecido pelo carnaval, a política não poderia ser diferente.

A apresentação começou e todos que ali estavam sentados, rumo a um dia frenético de trabalho, retomaram sua atenção à TV e ali permaneceram. Os primeiros colocados do último desfile já haviam se apresentado, em seguida a segunda alegoria, nela palhaços tomam a frente e fazem a alegria da arquibancada. Na passarela, mulheres-fruta brigam pelo título de rainha da bateria.

Como não poderia faltar, o que não é novidade, o carro alegórico de destaque intitulado “Aerotrem” causou euforia, muitos aplaudiram outros desacreditaram que ele conseguira entrar na avenida empurrado por ex-BBBs que mandavam beijos e novamente pediam votos emocionados.

Aqueles que passavam pela linha de chegada eram disputados pelos jornalistas que no horário do almoço já estariam com a matéria pronta para o jornal de amanhã. E assim foi até que todos se apresentaram. Quando me dei por conta, a programação havia terminado e voltaram a apresentar o horóscopo de Áries, olhei para alguns passageiros no ônibus que estavam dormindo e me perguntei, “– Será que eles enfim descobriram o que um vereador faz?”

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