CRÔNICA: Um livro de concreto no meio da cidade

Por: Rafaela Pietra

A casa abriga a cultura de Israel e nos abre os olhos para ela
Foto: Rafaela Pietra

Um dia você está andando na rua e PÁ, estanca.  

Olha para cima, para toda aquela monstruosidade de concreto, se vê chocado, de boca aberta.

Dá-se a ideia de que está folheando um daqueles gigantescos livros de biblioteca. Daqueles que pesam toneladas e acumulam poeira nas estantes. Dá-se uma Torá, aberta, no centro da cidade.

Você, incrédulo, se afasta para olhar melhor o livro. Vê que é tudo concreto mesmo, mas consegue notar as letras, os cinco volumes traduzidos em cinco andares de prédio, as nuances.

Quando mergulha naquelas páginas, quando entra, finalmente, naquela imensidão de concreto, percebe que assim que cruzou a porta, deixou de ser você. Assim, como mágica, despe-se de todas as suas expressões, de todas as impressões e certezas. Para estar ali, deve-se tirar, peça a peça, a roupa velha de nossa nacionalidade.

Com o tempo e os passos, avance pelas galerias, os enormes espaços abertos, mergulhe nesta Israel de arte e cultura, embebede-se das expressões alheias, una as pontas das ideias, discuta as classes e as dificuldades. Ali, para entender as ideias de um povo, de uma cultura, de uma Torá, deve-se livrar-se de si mesmo.

Quando finalmente estiver nu de toda a parcialidade, quando puder explorar cada palavra, curta. O melhor de se mergulhar nas páginas deste livro sagrado judeu, aberto no meio da selva de pedra, disponível e à mão, é o contato com as vivências de um povo diferente, multicultural, característico.

Quando sair, note. A visita vale cada tela, cada centímetro do rolo de filme, cada artista em que se esbarra, cada exposição. No caminho de volta, contabilize as diferenças que ficam em você, as vontades, as redefinições. Sinta a independência de expressar sua nacionalidade a partir deste contato próximo com outro povo, com uma nova Israel que se abre em sua mente, e a representa de outras maneiras.

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