19 de set. de 2013

Anorexia e bulimia: As doenças da beleza

Buscando o corpo perfeito, jovens aderem abertamente a práticas que levam à morte
Por: Ana Carla Mendonça

Magreza excessiva é um dos sintomas que apresenta um
portador de distúrbios alimentares. Foto: Banco de Imagens

Poderíamos viajar pela história da moda somente olhando capas de revistas femininas. Ao decorrer dos anos nos deparamos com diferentes tendências de roupas, comportamentos, estilos e principalmente estereótipo físico. Algumas décadas atrás era considerado bonito e saudável ter o corpo mais cheinho e robusto, mas hoje em dia isso é chamado de doença e desleixo. Para alcançar a tão sonhada magreza, jovens recorrem a procedimentos nada saudáveis e desenvolvem doenças em busca do corpo perfeito. As grandes vilãs que se disfarçam de mocinhas se chamam Anorexia e Bulimia e ambas fazem propostas atraentes de como emagrecer rápido e sem esforço, deixando as pessoas bonitas e fazendo com que sejam aceitas na sociedade.

Um fato que chocou o país foi a morte de uma blogueira gaúcha mês passado, devido a uma infecção causada pela baixa imunidade decorrente da anorexia. Segundo estudos realizados nos EUA, cerca de 8 milhões de americanos sofrem de distúrbios alimentares. Foi revelado que 10% dos doentes morrem até 10 anos após contraírem a doença e somente 40% se recuperam totalmente. No Brasil, estatísticas apontam que 16% das adolescentes apresentam algum sintoma da anorexia.

Segundo a psicóloga Aline Maia, a mídia e a sociedade tem um papel fundamental na influência desse comportamento. “Ser gordinho tornou-se sinônimo de doença, a moda é ser cada vez mais magro e bonito, o que faz com que as pessoas comecem uma incessante busca pelo corpo perfeito, que esteja de acordo com os padrões impostos pela sociedade”, afirma. Muitas vezes as cobranças de parentes próximos ou namorados são determinantes para que a pessoa entre em um quadro desses. Falta de apetite, roupas que não mostram o corpo, uso de laxantes e diuréticos em excesso, vômitos frequentes, dietas rigorosas e achar que está acima do peso mesmo estando magra, são os principais sintomas para detectar uma pessoa com distúrbios alimentares.

Geralmente eles vêm acompanhados de automutilação, que os portadores de distúrbios usam como penitência por terem se “alimentado demais” ou para aliviar as tensões que estão sentindo. A psicóloga acredita que a terapia é a melhor saída para começar a reverter quadros de anorexia e bulimia. “Os indivíduos que sofrem de transtornos alimentares geralmente acreditam que o seu valor está ligado ao seu peso, desse modo é de extrema importância que essa pessoa busque ajuda na psicoterapia, que ajudará no processo de autoconhecimento, proporcionando também novas formas de lidar com essa situação”, ressalta. Existem associações não governamentais que apoiam portadores de distúrbios, além de diversos grupos de apoio presenciais e online. Todas as entrevistadas estão em tratamento para reversão dos distúrbios e arrependem-se piamente de tê-los começado.

Confira abaixo depoimentos de jovens comuns que desenvolveram doenças em busca do corpo perfeito.
Portadoras de bulimia e anorexia, as jovens que serão identificadas como W, X, Y e Z, relataram como tudo começou e como estão se recuperando dos distúrbios alimentares que desenvolveram em busca do corpo ideal.

W, sexo Feminino, 20 anos, bulimia: “Percebi que sofria de algum distúrbio a partir do momento que ficava na frente do espelho encolhendo a barriga. Ficava com medo de comer, mas acabava comendo exageradamente e depois vomitava, pois havia aprendido esses hábitos nas novelas”.

X, sexo Feminino, 16 anos, anorexia e bulimia: “Tive anorexia e ainda sofro com crises bulímicas. As dietas começaram por volta dos 12 anos e eram hiper-restritivas, fazendo com que eu perdesse peso rápido, mas algum tempo depois ganhava tudo de novo. Depois que comecei o tratamento desenvolvi bulimia. Eu nunca me alimentava e quando comia, ingeria muito mais que o necessário, então usava métodos purgativos para me livrar da comida. A mídia me influenciou muito, sempre me comparava com as modelos e atrizes com seus corpos perfeitos”.

Y, sexo Feminino, 21 anos, anorexia e bulimia: “Com 16 anos tive coragem (sim, eu me orgulhava de mim por ter essa estúpida coragem) de começar a comer menos para não engordar tanto. Evitava comer na presença de outras pessoas para que não percebessem a quantidade que eu comia. Comecei a comer tudo o que gostava, e muito, pensando que depois "era só" vomitar, por tudo pra fora, que estaria tudo bem. Tive anemia profunda por muito tempo, meus cabelos e unhas ficaram muito quebradiços, sem falar nos meus dentes que ficaram fracos e amarelados. Quando fiquei nesse estado, chorei muito, me encontrei "sozinha" e percebi que tinha duas escolhas: força de vontade pra mudar, ou uma cama de hospital. Notei que estava muito longe de ser bonita, que estava ficando cada vez mais fraca e feia”.

Z, sexo Feminino, 19 anos, bulimia: “No começo eu achava que era algo normal, algo que eu escolhi e poderia controlar, mas com o tempo nenhum alimento mais permanecia no meu estômago, mesmo que eu não quisesse “miar” (termo utilizado para vomitar), acabava miando, pois meu estômago começou a ver a comida como algo estranho e não aceitava mais nada. Primeiro eu comecei a ficar dias sem comer e quando comia, miava logo em seguida. Então comecei a fazer todas as dietas possíveis, costumava ficar uma semana a base de apenas uma fruta por dia para não desmaiar.Quando não conseguia me controlar e acabava comendo mais do que deveria, fazia o possível para vomitar. No começo a mídia não me influenciou,mas depois para me motivar, ficava vendo fotos de pessoas muito famosas e que conseguiram emagrecer com ana (termo utilizado por anoréxicas para se referir à doença) e mia(termo utilizado por bulímicas para se referir à doença)”.

Por fim, Y deixa um recado a todos que se encontram nesse estado ou pensam em começar algo parecido. "Não adianta ser bonita por fora e feia por dentro. Depois de tudo o que passei reconheci que o problema, o defeito, não estava na aparência, e sim dentro de mim, dentro da minha mente. E a minha pior inimiga não era a comida, nem meu peso, e sim minha a mente. Então, não confie na sua mente, porque ela mente!"

3 comentários:

Unknown disse...

Essa é a minha amiga... simplesmente maravilhosa, vc ja é uma jornalista incrivel. Parabéns pela matéria! Bjos e muito mais sucesso.

Unknown disse...

Essa é a minha amiga... simplesmente maravilhosa, vc ja é uma jornalista incrivel. Parabéns pela matéria! Bjos e muito mais sucesso.

Anônimo disse...

Agora qualquer menina que quer emagrecer e se acha gorda, já acham que é doença. Nao sabem o que é sofrer de verdade. - Ass por: uma anoréxica cronica

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